No dia 28 de janeiro de 2025, pesquisadores do CEPID CancerThera realizaram uma visita ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e no Materiais (CNPEM), em Campinas (SP). A visita proporcionou uma visão abrangente das instalações de ponta do centro e do potencial de colaboração entre as duas instituições, especialmente na área de produção de radiofármacos e na investigação de novas moléculas para o diagnóstico e o tratamento do câncer.
A visita, ciceroneada pelo Dr. Antônio José Roque da Silva, físico, professor do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e diretor geral do CNPEM, não apenas reafirmou o papel da instituição como um polo de excelência científica, mas também abriu caminhos para novas parcerias que poderão impactar significativamente a pesquisa e o desenvolvimento de terapias inovadoras no Brasil. 10 profissionais compunham a comitiva do CancerThera, entre eles, pesquisadores principais, associados, colaboradores e pós-doutorandos. O CancerThera e o CNPEM já programaram um novo encontro, em fevereiro, para aprofundar o diálogo sobre as possibilidades de colaboração científica.

Estrutura e tecnologia impressionantes
O Dr. Carmino A. de Souza, médico onco-hematologista, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM/Unicamp), pesquisador responsável e diretor do CancerThera, ressaltou a magnitude da infraestrutura do CNPEM e a diversidade de pesquisas que podem ser desenvolvidas ali. “O CNPEM é um orgulho para o Brasil e, particularmente, para Campinas. As possibilidades de pesquisa são praticamente infinitas, abrangendo áreas como Física, Química, Biologia, Geologia e até mesmo a indústria do petróleo”, destacou.
Também chamou a atenção dos pesquisadores o potencial do acelerador de partículas Sirius, a mais avançada fonte de luz síncrotron da América Latina, para a produção de radiofármacos de interesse terapêutico, uma área essencial para o CancerThera.
A luz síncrotron é um tipo de radiação de alto brilho que cobre uma ampla região do espectro eletromagnético, desde radiações de menor energia, como a radiação infravermelha, até radiações de pequeno comprimento de onda e alta energia, como o raio X. “Por isso, pode-se utilizar essa radiação em diferentes comprimentos de onda (ou diferentes energias), dependendo do material a ser estudado, para se obter uma informação específica, como, por exemplo, sua estrutura molecular”, explicou o Dr. Pedro Paulo Corbi, químico, professor do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, pesquisador principal e gerente de Inovação no CancerThera.
Nesse sentido, “a luz síncrotron permite estudar diferentes tipos de materiais e determinar suas estruturas e propriedades, possibilitando aplicações em diferentes áreas do conhecimento, incluindo a Biologia e a Medicina”, acrescentou o Dr. Celso Dario Ramos, médico nuclear, professor da FCM/Unicamp, pesquisador principal e vice-diretor no CancerThera. Há, então, as possibilidades no campo da radioterapia, inclusive, com a aceleração de prótons fundamentais para a protonterapia, uma modalidade ainda não existente no País.
“80% de tudo que está ali foi projetado em nível nacional por engenheiros brasileiros em interface com toda a comunidade científica do Brasil. É um equipamento que funciona praticamente 24 horas por dia, todos os dias”, disse Souza. Ele destacou que a demanda pelo Sirius é enorme, com pesquisadores de todo o mundo utilizando suas instalações para experimentos de alta complexidade, oferecendo até mesmo áreas para hospedagem no campus quando necessário.
Outro setor que se destacou durante a visita ao CNPEM foi a Área de Núcleos Avançados de Tecnologias em Saúde, pois contém inúmeros equipamentos e variados experimentos aplicáveis ao câncer. A Dra. Carmen Silvia Passos Lima, médica onco-hematologista, professora da FCM/Unicamp, pesquisadora principal e coordenadora de Inovação no CancerThera justifica: “A disponibilidade da equipe de pesquisadores para prestar serviços para empresas públicas e privadas (as facilities) e estabelecer parcerias em pesquisa na nossa área de atuação. E tudo isso em Campinas, tão próximo de nós”.




Da inspiração à cooperação

“As instalações dos laboratórios e a elevada capacidade no gerenciamento dos projetos de infraestrutura e de pesquisa são dois aspectos que me impressionaram bastante”, pontuou Corbi. Ele salientou que a busca por novas tecnologias no CNPEM, incluindo produtos e processos, com aplicações que vão desde as Engenharias até a Saúde, serve de inspiração para universidades e centros de pesquisa.
Ramos elogiou a integração dos laboratórios do CNPEM e a estrutura única para o desenvolvimento de estudos em nível molecular. “Identificamos diversas oportunidades de cooperação, tanto na produção de radioisótopos quanto na pesquisa de novas moléculas, incluindo aquelas encontradas na flora brasileira. Então, dessas moléculas, quem sabe, surge alguma que seja do interesse do CancerThera para o diagnóstico e o tratamento do câncer”, afirmou.
Lima acrescentou outras possibilidades de trabalho conjunto entre as instituições, tais como: em avaliações genômicas, proteômicas e estruturais de proteínas que contribuam com o que já se desenvolve no CancerThera para identificar mecanismos de ação de metalofármacos e metalorradiofármacos; na biodistribuição de radiofármacos em animais de pequeno porte, até que o CancerThera tenha seus próprios laboratórios de estudos pré-clínicos; e na identificação de fármacos com ação antitumoral em estudos in vitro (células tumorais e produtos de engenharia de tecidos) e de estudos in vivo (animais de pequeno porte).
“De imediato, durante a visita, propusemos uma parceria para avaliar permeação, isto é, penetração de complexos metálicos por nós desenvolvidos na pele, visando ao tratamento do câncer de pele, em pele por eles produzida. Já estamos conversando com os pesquisadores da área”, contou Lima sobre aquele que poderá ser um dos projetos de cooperação, envolvendo, especialmente, o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), que é parte do CNPEM. A realização de eventos científicos em conjunto também está prevista.
Texto: Romulo Santana Osthues | Fotos: Carmen Silvia Passos Lima e Maria Carolina S. Mendes