A Agência de Inovação da Universidade Estadual de Campinas (Inova Unicamp) realizou uma visita ao CEPID CancerThera como parte da agenda do programa InovaLab. O encontro, que ocorreu em 07 de agosto, reuniu pesquisadores do centro de pesquisa, professores da Unicamp e a equipe da Inova em um movimento que reforça a missão institucional da universidade: transformar ciência de ponta em soluções acessíveis e de impacto para a sociedade.
O CancerThera, criado em 2023 e sediado no Centro de Hematologia e Hemoterapia da Unicamp, é um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Também compõem o centro o Instituto de Química de São Carlos da Universidade de São Paulo e a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.
Suas equipes atuam de forma translacional, integrando pesquisa básica, pré-clínica e clínica, com foco em desenvolver novos metalofármacos e radiofármacos, assim como aplicações inéditas para os que já são consagrados no mapeamento da distribuição pelo corpo e no tratamento de determinados tumores. Um dos principais objetivos do CancerThera é desenvolver novos produtos para aplicação no modelo Teranóstico, unindo diagnóstico e terapia em uma mesma abordagem.
A visita reforça o papel da Inova Unicamp como Núcleo de Inovação Tecnológica da universidade, responsável por apoiar docentes e pesquisadores no processo de transformação de ciência em inovação. Ao mesmo tempo, reafirma o compromisso do CancerThera em trilhar o caminho da inovação de forma colaborativa, garantindo que suas descobertas científicas beneficiem pacientes oncológicos em todo o Brasil.



Convergência entre pesquisa e inovação
Durante a visita, a equipe da Inova Unicamp percorreu laboratórios do Instituto de Química (IQ) e da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) – como o Laboratório de Química Bioinorgânica e Medicinal, o Laboratório de Genética do Câncer e o Laboratório de Oncologia Molecular –, conhecendo pesquisas com forte potencial de impacto clínico. A iniciativa proporcionou não apenas a troca de informações sobre estudos em andamento, mas também a discussão de estratégias de proteção da propriedade intelectual e transferência de tecnologia, etapas fundamentais para que a ciência alcance o mercado e, sobretudo, os pacientes.
Nessa rota, a equipe da Inova Unicamp identificou pesquisas com potencial de proteção, como radiofármacos em desenvolvimento e um programa de computador baseado em inteligência artificial, criado em parceria com o Instituto de Física Gleb Wataghin, para otimizar estudos laboratoriais. “As pesquisas e tecnologias desenvolvidas no CancerThera possuem grande potencial de promover inovações no setor da saúde, e a aproximação com a Inova Unicamp permite que os interesses da universidade estejam protegidos em convênios de pesquisa, desenvolvimento e inovação firmados com empresas e instituições e nas transferências de tecnologias da universidade”, avalia Iara Ferreira, coordenadora de negócios e inovação da Inova Unicamp.
O Dr. Pedro Paulo Corbi, químico, professor do IQ/Unicamp e pesquisador principal no CancerThera, destacou o papel da pesquisa básica como alicerce das futuras inovações. Para ele, os metalofármacos e radiofármacos estudados têm potencial de impactar significativamente a qualidade de vida de pacientes oncológicos. “A cada nova molécula desenvolvida, avançamos tanto no que diz respeito ao diagnóstico quanto ao tratamento mais eficaz, buscando melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Os fármacos desenvolvidos pelo CancerThera têm uma forte vertente em inovação, e esperamos que essas novidades possam chegar aos estudos clínicos em um futuro próximo”, diz Corbi, que é também gerente da área de Inovação do centro de pesquisa.
A Dra. Carmen Silvia Passos Lima, hematologista e oncologista, professora da FCM/Unicamp, pesquisadora principal e coordenadora de Inovação no CancerThera, relata que as pesquisas conduzidas pelo grupo que coordena já apresentam resultados com potencial inovador: “A oportunidade mais palpável de inovação neste momento é o desenvolvimento de terapêutica tópica do complexo de prata nimesulida para pacientes com carcinoma de células escamosas de pele”.
Segundo a pesquisadora, considerando que o câncer de pele é o tumor mais frequente no mundo e no Brasil e que a ressecção cirúrgica pode causar mutilações ao paciente, esse avanço pode transformar o tratamento da doença. “A administração tópica do composto poderá constituir terapêutica inovadora, menos agressiva e de baixo custo, particularmente para pacientes do Sistema Único de Saúde do nosso país, onde imunoterapia e agentes alvo-específicos não estão disponíveis”, explica.
Também estão sendo conduzidos no CancerThera estudos “in vitro” cujos alvos são outros tumores: de pele (o melanoma), de sistema nervoso central (glioblastoma) e o carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço. Lima destaca que, para esses tumores, novas terapêuticas são bastante desejáveis, mas ainda é longo o caminho entre a bancada dos laboratórios do centro de pesquisa e o mercado.
O papel estratégico da Inova Unicamp
A visita foi propícia ao reforçar a atuação da Inova Unicamp como parceira institucional dos grupos de pesquisa, como os que constituem o CancerThera, no processo de inovação. Ao atuar como ponte entre universidade, mercado e sociedade, a agência cumpre sua missão institucional de proteger ativos de propriedade intelectual, estimular parcerias estratégicas e ampliar o impacto social das pesquisas desenvolvidas na universidade.
O Dr. Celso Dario Ramos, médico nuclear, professor da FCM/Unicamp, pesquisador principal e vice-diretor executivo no CancerThera, ressaltou a relevância dessa aproximação para transformar descobertas científicas em produtos que cheguem efetivamente à sociedade: “A Inova pode, justamente, nos ajudar a divulgar os novos compostos obtidos para que consigamos as patentes deles e a procurar empresas interessadas em produzi-los”.
“O mais relevante da visita, a meu ver, foi a oportunidade de aproximar pesquisadores e alunos da equipe da Inova, reforçando a importância da proteção da propriedade intelectual e da transferência de tecnologia, para que os resultados das pesquisas possam efetivamente chegar à população”, diz a Dra. Maria Carolina Santos Mendes, nutricionista, pesquisadora de pós-doutorado em Inovação e Transferência de Tecnologia no CancerThera.
Ela destacou, ainda, a natureza inovadora das pesquisas desenvolvidas pelo centro: “Vejo que têm a inovação em sua essência, ainda que o caminho entre a descoberta científica e a chegada de um novo radiofármaco ao mercado seja extremamente desafiador”.

Saiba mais sobre o InovaLab
O InovaLab busca entender as necessidades de docentes, pesquisadores e alunos em temas de inovação, aproximando e integrando os serviços da Inova Unicamp diretamente nesses ambientes de pesquisa. A meta do programa é fomentar a inovação, identificar oportunidades de proteção e transferência de tecnologias e ampliar as oportunidades de conexão da comunidade acadêmica com empresas interessadas em parcerias de pesquisa.
“A Inova Unicamp está em uma missão para se conectar profundamente com os laboratórios da universidade, mergulhando no dia a dia dos nossos pesquisadores. Nosso objetivo principal é estar mais perto dos docentes, dos pesquisadores e dos alunos, para entender de perto as pesquisas e expertises que pulsam nesses ambientes”, diz Ferreira.
A comitiva da Inova Unicamp faz visitas aos laboratórios da universidade, justamente, para entender o que está sendo pesquisado e, posteriormente, criar uma estratégia de proteção da pesquisa com potencial de inovação, seja por meio de um depósito de pedido de patente ou de um registro de programa de computador, por exemplo.
Concomitantemente, são traçadas estratégias de busca de parceiros, sejam empresas, instituições de ciência e tecnologia ou outras instituições que se interessem pelo que está sendo desenvolvido e protegido. Isso é uma das formas de levar as tecnologias desenvolvidas na Unicamp adiante para que sejam absorvidas pela sociedade. Todo esse processo é feito em conjunto com os pesquisadores envolvidos na proteção das tecnologias e na busca por parcerias.
Texto: Romulo Santana Osthues com informações e em colaboração com a Inova Unicamp | Fotos: Isabele Scavassa (Inova Unicamp)