Na tarde do dia 18 de fevereiro, uma comitiva do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), vinculado à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), visitou a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Campinas (SP), para conhecer a infraestrutura dos laboratórios e unidades onde são desenvolvidas as pesquisas do CEPID CancerThera e dialogar sobre as possibilidades de cooperação. No mês anterior, uma delegação formada por pesquisadores principais do CancerThera foi recebida pela equipe do IPEN com os mesmos propósitos no campus da Universidade de São Paulo (USP), na capital.
Na Unicamp, a equipe do IPEN visitou alguns dos laboratórios do Instituto de Química (IQ), do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW) e da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), além da radiofarmácia do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas. Ao final, na sala multimídia do Hemocentro, houve uma reunião para diálogo sobre as inúmeras possibilidades de colaboração.
A comitiva do IPEN foi composta pela Dra. Isolda Costa, engenheira química, diretora e superintendente do IPEN e diretora técnico-científica da Associação Brasileira de Energia Nuclear; pela Dra. Elaine Bortoleti de Araújo, farmacêutica, bioquímica, pesquisadora e professora do IPEN; e pelo Dr. Wilson Aparecido Parejo Calvo, engenheiro de materiais e diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da CNEN.
“A infraestrutura dos diversos departamentos envolvidos é excelente e complementar, sem esquecer o nível de conhecimento dos pesquisadores líderes. Saí bem impressionada e com muita vontade de fazermos parte desta história que está sendo criada”, disse Costa.
E Araújo acrescentou: “Surpreendente a infraestrutura dos laboratórios de Química, com equipamentos de última geração para análises de novos compostos e profissionais muito comprometidos”. A professora ressaltou, ainda, que há aspectos do CancerThera que conversam com as atividades do IPEN na área de Radiofarmácia, especialmente no desenvolvimento de novos ligantes, métodos de radiomarcação e estudos pré-clínicos e clínicos.
Diálogos permanentes a serviço da vida
A visita, além de apresentar à comitiva do IPEN a infraestrutura da universidade, teve como objetivo avaliar possibilidades de cooperação entre as instituições, unindo esforços nas áreas da Radiofarmácia, da Medicina Nuclear e da Oncologia, abrangendo pesquisa, educação e inovação. O fortalecimento da colaboração entre as instituições também pode favorecer o enfrentamento de desafios regulatórios.
“A união de esforços para o desenvolvimento de novos radiofármacos será nosso principal foco, assim como a formação de recursos humanos no tema. O CancerThera poderá colaborar com o IPEN ao agregar capacidade de infraestrutura instalada e conhecimentos específicos e compartilhar pesquisadores de altíssima expertise”, exemplificou Costa.
“Essa característica multidisciplinar dos especialistas e os equipamentos multiusuários de última geração, para análises e caracterizações de moléculas e compostos, responsáveis pela formação dos radiofármacos, garantem a sustentabilidade e a inovação no CEPID CancerThera a serviço da vida”, destacou Calvo.
O Dr. Celso Dario Ramos, médico nuclear, pesquisador principal e vice-diretor do comitê executivo do CancerThera, ressaltou a importância da parceria entre as instituições: “As expectativas de colaboração são muito grandes, porque o IPEN tem estrutura, experiência e tradição em produção de radiofármacos. A participação deles no CancerThera seria extremamente proveitosa, e nós podemos oferecer como contrapartida a estrutura hospitalar da universidade”.
“O IPEN pode nos ajudar no fornecimento de radiofármacos, como o 177Lu-PSMA, e nós poderemos oferecer infraestrutura e apoio na pesquisa clínica. Há também oportunidades na educação, permitindo que alunos circulem entre as instituições”, explicou o Dr. Carmino Antonio de Souza, onco-hematologista, pesquisador responsável e diretor do comitê executivo do CancerThera. “Temos enormes respeito e admiração pelo IPEN e pelo CNEN, que são entidades fundamentais para o desenvolvimento da área nuclear no Brasil, especialmente na Medicina Nuclear”, destacou.
Durante as discussões finais da visita, foi destacada a existência do “Programa multicêntrico utilizando radioligantes de PSMA para o diagnóstico e terapia de pacientes com câncer de próstata” (FAPESP, processo número 2020/07065-4), um projeto clínico já em andamento, coordenado por Calvo e conduzido por meio de uma parceria entre o IPEN/CNEN e hospitais e universidades do estado de São Paulo: entre eles, o Hospital de Clínicas da Unicamp, o Hospital do Câncer de Barretos, o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). O programa é focado no desenvolvimento de um novo radiofármaco, ampliando as alternativas terapêuticas para pacientes com câncer não-responsivos aos tratamentos atualmente disponíveis na Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo e no Sistema Único de Saúde, pela introdução de radiofármacos terapêuticos de vanguarda, como o 177Lu-PSMA, que serão distribuídos à rede parceira mencionada.
“O projeto oferecerá uma melhor opção terapêutica a esses pacientes no estado de São Paulo e avançará no conhecimento dos fatores que determinam a resistência desses tumores aos tratamentos mais modernos disponíveis”, explicou Calvo. Já Araújo enfatizou a importância dessa cooperação para avançar para a Fase 2 do estudo clínico do projeto: “O setor de Medicina Nuclear da Unicamp é uma ‘porta aberta’ do setor público de saúde para projetos clínicos de avaliação de novos radiofármacos, ou mesmo de novas indicações para radiofármacos já utilizados na rotina”.

Texto e fotos: Romulo Santana Osthues