Com público presencial expressivo e programação científica diversificada, o 2º Simpósio Julho Verde – Câncer de Cabeça e Pescoço foi realizado, em 19 de julho, no Anfiteatro do Instituto de Otorrinolaringologia & Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Estadual de Campinas (IOU/Unicamp), reunindo especialistas, estudantes e representantes de diversas instituições de saúde brasileiras.
Tendo inscrições esgotadas – foram mais de 140 participantes presenciais – e um ambiente de aprendizado e cooperação entre diferentes especialidades, o simpósio reafirmou sua importância no calendário científico de discussões sobre esse tipo de câncer no País. “O evento cumpriu o seu papel de forma muito satisfatória”, avalia a Dra. Carmen Silvia Passos Lima, oncologista, hematologista, professora da FCM/Unicamp, pesquisadora principal no CancerThera e membro do comitê de organização do evento.
O simpósio foi promovido pela Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, por meio do Programa de Pós-Graduação em Oncologia, em parceria com o IOU/Unicamp e o CEPID CancerThera. “Considerando o perfil altamente especializado do evento e seu caráter presencial, o número de participantes foi expressivo. O que mais impressiona, no entanto, é que esse pode ser considerado um dos maiores eventos exclusivamente dedicados ao câncer de cabeça e pescoço no interior do estado de São Paulo”, diz a Dra. Lígia Traldi Macedo, oncologista e pesquisadora associada no CancerThera, que compartilhou a liderança na organização do evento com Lima e o Prof. Dr. Carlos Takahiro Chone, oncologista, professor da FCM/Unicamp e pesquisador associado ao CancerThera.
Colaboração interinstitucional e solidariedade
Integrando-se à campanha mundial de conscientização sobre o câncer de cabeça e pescoço, o simpósio reafirma o compromisso da Unicamp com a formação multidisciplinar e a responsabilidade social no enfrentamento à doença. Ele se destacou não apenas pelo número de participantes, mas também pela diversidade da programação científica, com representação de múltiplas especialidades. “A troca de experiências entre eles permitiu identificar desafios comuns e reforçar a importância da atuação coordenada entre as diferentes áreas no diagnóstico, no tratamento e na reabilitação de pacientes com tumores de cabeça e pescoço”, afirma Macedo.
A programação abordou temas como tumores de tireoide, orofaringe e nasofaringe, câncer inicial de laringe e tumores HPV-induzidos, e trouxe também debates sobre suporte multidisciplinar e as pesquisas desenvolvidas no CancerThera sobre o uso de radiofármacos no modelo Teranóstico. “Merece ainda grande destaque o bloco de palestras e discussão sobre suporte ao paciente com câncer de cabeça e pescoço, conduzido por oncologista, psicóloga e fonoaudiólogas”, diz Lima.
Entre os palestrantes estavam representantes de instituições de excelência como Unicamp, Instituto Nacional de Câncer (Inca), Hospital Sírio Libanês, Rede D’Or, Hospital Albert Einstein, PUC-Campinas, Santa Casa de São Paulo e Oncovida Cuiabá. A programação contemplou desde conceitos básicos para alunos de graduação até atualizações e controvérsias terapêuticas, refletindo a missão do simpósio de integrar formação, pesquisa e assistência.
Além disso, como parte da campanha Corrente do Bem FCM, os participantes foram convidados a doar 1 kg de alimento, destinados a famílias em situação de vulnerabilidade social, reforçando o papel da universidade também no cuidado com a comunidade.
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Diagnóstico tardio no Brasil
Um estudo conduzido pelo Inca e publicado em janeiro deste ano na revista The Lancet Regional Health – Americas analisou mais de 145 mil casos de câncer de cabeça e pescoço e revelou que cerca de 80% dos tumores desse tipo no Brasil são diagnosticados em estágio avançado (III ou IV) – as chances de cura caem drasticamente. Tumores como os de hipofaringe (91,3%) e orofaringe (86,6%) lideram as estatísticas de diagnósticos tardios.
A pesquisa, que contou com dados coletados entre 2000 e 2017, também apontou que o nível de escolaridade e a idade influenciam diretamente no estadiamento: pessoas com baixa escolaridade têm 17% mais chance de receber o diagnóstico tardiamente, e quanto mais jovem o paciente, maior a probabilidade de já apresentar a doença em estágio avançado.
Esses dados reforçam a gravidade dos cânceres de cabeça e pescoço no país, que estão entre os mais incidentes no Brasil e afetam regiões como cavidade oral, laringe e faringe. O estudo denuncia a desigualdade no acesso ao diagnóstico e ao tratamento – especialmente em áreas da região Norte – e aponta como fatores de risco o tabagismo, o etilismo e a baixa escolaridade.
Texto: Romulo Santana Osthues | Fotos: Romulo Santana Osthues, Carmen Silvia Passos Lima, Lígia Traldi Macedo e Juliana Carron