Em 23 de agosto, o evento Unicamp Portas Abertas 2025 (UPA) promoveu mais um encontro memorável entre ciência e sociedade. Cerca de 45 mil visitantes circularam pelo campus da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e, entre eles, mais de 1500 passaram pela atividade “CancerThera: novas perspectivas no diagnóstico e no tratamento do câncer”, que ocupou um espaço especialmente preparado tanto para explicar como é realizada a pesquisa de ponta na produção de radiofármacos na instituição quanto para promover o diálogo entre cientistas e jovens estudantes, seus familiares e professores.
A participação do CEPID CancerThera na 20ª edição da UPA foi muito além da apresentação de pôsteres, maquetes e experimentos interativos. Foi, sobretudo, um exercício de escuta e inspiração. Os visitantes puderam conversar diretamente com pesquisadores, tirando dúvidas, afastando medos e descobrindo que a radiação, muitas vezes vista como ameaça, pode ser também uma poderosa aliada da saúde.
“Sabemos que uma área de pesquisa que envolve radiação, como a nossa, levanta muitas dúvidas por parte da sociedade. Então, participar da UPA é uma forma de conversar sobre o assunto para diminuir o medo e o preconceito”, explica o Dr. Carmino Antonio de Souza, médico onco-hematologista, professor da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e pesquisador responsável pelo CancerThera.
Outro tema nos círculos de conversas entre cientistas e visitantes durante a UPA foi o próprio câncer, uma condição que afeta a saúde de inúmeras pessoas direta ou indiretamente e cujo sofrimento gerado pode ser potencializado pela desinformação – com destaque para conteúdos falsos ou equivocados que circulam na internet sobre o tema –, aumentando o temor e o estigma.
Estar presente na UPA “é uma forma de a equipe do CancerThera afastar preconceitos e fazer com que as pessoas compreendam que o câncer é um grupo de doenças com as quais nós vamos conviver, mas que a ciência tem desenvolvido muita coisa importante para enfrentá-lo”, destaca Souza.
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O conhecimento é fascinante

De Campinas (SP), a tradutora Elizângela Rúbia Ramos Pinto, que levou a filha interessada em cursar Medicina para conhecer o campus e suas diversas possibilidades, ressalta o impacto da experiência: “Achei fascinante”. Ela justifica que seu encanto foi devido à multidisciplinaridade que constitui a equipe do CancerThera (formada por químicos, físicos, biólogos, médicos, entre outros profissionais) e a como as diferentes áreas se unem para o bem do paciente oncológico. Ela afirma também que, após a visita, ficou esperançosa e orgulhosa por saber que há uma pesquisa tão inovadora acontecendo perto dela, em sua cidade.
Para a professora Antonia Edna Takamine, de Bragança Paulista (SP), acompanhada da filha e de 30 estudantes, a visita foi transformadora: “É um assunto de alta tecnologia, mas explicado de maneira acessível, muito fácil de entender”. Ela, que já falava sobre radiofármacos em sala de aula com seus alunos dos ensinos fundamental e médio, agora tem ainda mais elementos para apoiá-la no enfrentamento à desinformação sobre o uso da radiação. “É necessário se informar. Depois que você tem conhecimento sobre a radiação, você percebe que ela é muito importante, por exemplo, para diagnósticos e tratamentos na área da Saúde”, diz.


A química Patrícia Vasconcelos Barbosa, de Campinas (SP), que levou duas filhas e uma amiga delas para conhecer a universidade, resumiu o sentimento em uma única palavra: “esperança”. Ex-pesquisadora e, hoje, atuando na indústria, ela ficou com lágrimas nos olhos ao ver e ouvir de pertinho o propósito dos cientistas do CancerThera. Com a voz embargada, ela relata: “Eu me emocionei porque acho lindo, na área da pesquisa, ver pessoas que estão dedicando um tempo precioso para tentar achar caminhos novos, que possam interferir nas vidas de outras pessoas. Esses estudos podem fazer a experiência de pessoas com câncer ser diferente, tendo outra qualidade, diferente do desconforto e do sofrimento com a doença”.
O contentamento em fazer parte da UPA reverbera não apenas entre quem passa pelo espaço expositivo e interativo montado nas Arenas da FCM/Unicamp, mas também entre integrantes da equipe de organização e mediação da atividade do CancerThera, que, este ano, contou com 40 pessoas.
“O grande estímulo da UPA é gerar cientistas do amanhã. Então, levá-los a esses ambientes estimula que as escolhas do futuro possam ser mais claras, prazerosas e definitivas. É muito bacana que as crianças e os adolescentes venham acompanhados de seus pais, avós e professores, para que eles também se estimulem a si próprios e possam continuar estimulando esses cientistas do amanhã no seu dia a dia”, diz Souza, que é um entusiasta da UPA desde suas primeiras edições.
A jornada do visitante na atividade do CancerThera
Distribuídos em grupos de 40 pessoas, os visitantes entravam na antessala do espaço expositivo do CancerThera para assistirem a um vídeo introdutório sobre o centro de pesquisa e suas principais atividades científicas. Em seguida, eram encaminhados ao salão das Arenas da FCM/Unicamp, nas quais quatro diferentes equipes explicavam o funcionamento do câncer e dos radiofármacos, assim como demonstravam como as investigações acontecem de maneira translacional entre os três eixos de pesquisa do CancerThera: Básico, Pré-Clínico e Clínico.
Na Arena CancerThera, o público conheceu o conceito de “Teranóstico”, que une diagnóstico e tratamento em uma só abordagem. Uma maquete mostrou como moléculas ligadas a radioisótopos se conectam a células-alvo para localizar e tratar tumores. Pôsteres ilustravam o funcionamento do exame de PET/CT e outras aplicações da tecnologia nuclear, como análise de metabolismo e composição corporal, essenciais para personalizar terapias.
Na Arena de Pesquisa Básica, foi possível entender o que é radiação e como ela está presente no dia a dia, com exemplos como sal de cozinha e areias monazíticas. Um manequim de torso e detectores Geiger-Müller permitiram ver na prática como a radiação é utilizada de forma segura para diagnosticar doenças, acompanhados de vídeos que mostraram exames de PET/CT em ação.
A equipe da Arena de Pesquisa Pré-Clínica abordou como novas moléculas contra o câncer são desenvolvidas e testadas. O público conheceu compostos avaliados em células tumorais e modelos animais, além de fármacos para uso tópico no tratamento de câncer de pele. Modelos químicos, soluções coloridas e pôsteres ilustrativos complementaram a experiência.
Por fim, na Arena de Pesquisa Clínica, era simulada a pesquisa do linfonodo sentinela, usada para detectar a disseminação do câncer pelo corpo do paciente. Um manequim com lesão oral e metástase cervical, marcadas com radiofármacos, permitiu que os apresentadores da atividade utilizassem um equipamento probe para localizar áreas afetadas, reproduzindo um procedimento real da Medicina Nuclear.
Ao longo do dia, cada arena se tornou um espaço vivo de aprendizado e troca, onde os visitantes puderam ver a ciência sendo partilhada e pesquisadores tiveram a chance de renovar o sentido de sua missão. Mais do que explicar técnicas, o CancerThera mostrou que ciência é encontro, é diálogo e é também esperança.
Souza resume a importância da iniciativa e da disposição de contribuir que cada membro teve: “A participação na UPA é uma oportunidade para que vários integrantes de nosso centro de pesquisa – nossos alunos desde iniciação científica até o pós-doutorado, juntamente com os pesquisadores principais e associados – possam, de maneira muito simples, lúdica, objetiva, mostrar aquilo que nós fazemos”.

Texto: Romulo Santana Osthues | Fotos: Romulo Santana Osthues, Carmen Silvia Passos Lima e Maria Carolina Santos Mendes