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16º Congresso da SBBN ressalta o espaço das biociências nucleares na sociedade e a importância da formação para a inovação no setor; pesquisadores do CEPID CancerThera foram palestrantes

Realizado entre os dias 8 e 11 de julho de 2025, durante a 39ª Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (FeSBE), o 16º Congresso da Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN) reuniu especialistas de todo o país no campus da Unicamp, em Campinas (SP). Com o tema “Inovações e desafios nas biociências nucleares: Integrar a política nuclear com a demanda da sociedade”, o congresso foi presidido pelo Dr. Fabio Luiz Navarro Marques, químico, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e associado ao CEPID CancerThera

O evento se destacou por sua abordagem multidisciplinar e pela busca de articulação entre ciência, indústria e políticas públicas. Com a presença expressiva de pesquisadores e representantes de instituições públicas e privadas, o Congresso da SBBN segue sendo, ano após ano, um espaço de reflexão estratégica para o futuro das biociências nucleares no Brasil, reunindo educação, pesquisa aplicada e inovação.

O diretor do congresso: Fabio Luiz Navarro Marques, químico, pesquisador da FMUSP e associado ao CEPID CancerThera.

Centros de excelência exemplares

A conferência de abertura, intitulada “CNPEM: Um centro multidisciplinar para desafios estratégicos”, foi ministrada pelo Dr. Antônio José Roque da Silva, professor do Instituto de Física da USP e diretor geral do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM). Durante sua fala, foram apresentadas as principais instalações da instituição e as possibilidades de absorção e integração de pesquisas nas áreas da Física das Partículas, Nanopartículas, Biologia Molecular, Química Medicinal e no desenvolvimento de dispositivos para produção de radioisótopos. 

Outra contribuição importante para o evento foi a da Dra. Cornelia Hoehr, física nuclear, professora associada da Universidade de Victoria e pesquisadora do Triumf – um centro de aceleração de partículas –, ambos no Canadá. Ela tratou das investigações e do desenvolvimento tecnológico dessas instituições (na palestra “Triumf – A successful history in research and development association between public and private institutions”) e de como o governo canadense tem trabalhado para disponibilizar radiofármacos por todo o país, o qual tem dimensão continental, assim como o Brasil (“Canadian program for cyclotron radiopharmaceutical production from east to west coast”).

“As apresentações desses pesquisadores mostraram que instituições comprometidas com boa governança, abertura para o desenvolvimento de colaborações científico-tecnológicas e apoio governamental ou privado têm tudo para se tornarem centros de excelência para atender às demandas das sociedades nas quais estão inseridas”, avalia Marques.

Presença do CancerThera

A Ma. Vânia Pereira de Castro Rodrigues (foto à esquerda), radiofarmacêutica do Serviço de Medicina Nuclear do Hospital de Clínicas da Unicamp e pesquisadora associada ao CancerThera, apresentou o projeto do Centro Nacional de Ensino e Treinamento em Radiofarmácia, com foco na formação qualificada e descentralizada de profissionais desse setor no Brasil. “Queremos atrair profissionais de todos os cantos do País, treiná-los com base nas melhores práticas e tecnologias, e fazer com que eles levem esse conhecimento de volta aos seus centros de origem”, afirma Rodrigues. O centro busca suprir uma lacuna histórica na qualificação de mão de obra em Radiofarmácia e tornar a Unicamp uma referência nacional. A importância do treinamento para a preparação e o uso de novos radiofármacos foi ressaltada pelo Dr. João Alberto Osso Junior, químico, pesquisador da Comissão Nacional de Energia Nuclear e consultor da Agência Internacional de Energia Atômica.

Em sua conferência, “Contribuições da modelagem matemática e computacional para a pesquisa em câncer e suas terapias”, o Dr. Diego Samuel Rodrigues (foto à direita), professor da Faculdade de Tecnologia da Unicamp e pesquisador associado ao CancerThera, explica que uma das promessas nessa área é a terapia adaptativa, que tem se mostrado muito útil no caso em que as aplicações convencionais dos tratamentos geralmente falham devido ao surgimento de células tumorais resistentes, reforçando a relevância da personalização dos tratamentos com base em ferramentas matemáticas. “Na terapia adaptativa, os instantes de aplicações das doses são estabelecidos em tempo real e com base em dados clínicos dos pacientes, e isso tem contribuído para que a resistência aos tratamentos oncológicos possa ser mitigada ou até mesmo evitada”, destaca.

Uma programação robusta

Um painel coordenado por Fabio Marques trouxe à tona os gargalos estruturais e as potencialidades da área nuclear no Brasil. Na mesa “Parques tecnológicos e programas de fomento”, foram debatidas iniciativas como o SUPERA Parque (Ribeirão Preto), o projeto do Centro de Treinamento em Segurança Física Nuclear (Centresf) e a tentativa frustrada de implantação de uma rede nacional colaborativa de Radiofarmácia via edital INCT/CNPq. “Com a não seleção do projeto, entendo que a área de radiofarmácia no Brasil caminhará para uma situação crítica no que tange à formação de pessoas e a disponibilidade de produto para atender à rede médica”, alerta Marques.

Em outro painel, “Biomoléculas: do descobrimento aos radiofármacos”, foram reunidos representantes do CNPEM, da Universidade Estadual Paulista, da USP e da empresa farmacêutica Bionovis. Foram discutidos processos de identificação de vetores moleculares, escalonamento de produção e aplicações em diagnóstico e terapia oncológica. Marques afirma ter ficado “evidente o potencial instalado no estado de São Paulo para o desenvolvimento de biofármacos e biorradiofármacos”.

Compondo a diversidade temática do congresso, a mesa “Neurociência no autismo”, formada por pesquisadoras da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, destacou avanços no diagnóstico e no tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA), como neuromodulação por fotobiomodulação e plataformas vibratórias. Para Marques, o conteúdo merece ser revisitado em novos formatos, com “divulgação científica de qualidade para familiares e professores envolvidos com pessoas com TEA”.

Uma seção temática abordou técnicas de eletroterapia no reparo tecidual, com apresentações da Fundação Hermínio Ometto. Foram expostos usos promissores de laser e corrente elétrica na regeneração de tecidos e no tratamento de inflamações, abrindo possibilidades de integração com tratamentos baseados em radioisótopos.

Além dessas mesas e sessões, o congresso ofereceu três cursos formativos: Neuroimagem molecular translacional, Análise não linear de imagens e sinais em biociências e Conceitos em bioestatística, reafirmando o caráter educacional da SBBN.

Reconhecimento à pesquisa: prêmio e futuro

O congresso também marcou o lançamento do Prêmio Prof. Eloy Julius Garcia, dedicado à formação em radiofarmácia e radiobiologia. O trabalho vencedor, patrocinado pela R2 Pharma, foi “Synthesis and [18F]fluorine radiolabeling of [B(md-1)] complex as a bifunctional compound for PET image and proton therapy”, assinado por Fabio Marques em colaboração com o Dr. Victor Marcelo Deflon e o Dr. Pedro Paulo Corbi – ambos químicos e pesquisadores principais no CancerThera –, o Dr. Luiz Antônio Sodré Costa, químico e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora, e os alunos da Unicamp e da USP: Gabriela Viana de Souza, Mariana Almeida Figueira, Joaldo Garcia Arruda e Victor Maia Miranda. 

Pesquisadores premiados: Victor Marcelo Deflon, Mariana Almeida Figueira, Gabriela Viana de Souza e Fabio Luiz Navarro Marques

“Esperamos que nos próximos anos possamos identificar frutos das interações entre os diversos participantes desse evento, no desenvolvimento científico, tecnológico e de manufaturas”, projeta Marques.


TextoRomulo Santana Osthues | Fotos: Acervo pessoal dos pesquisadores

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