O grupo de pesquisadores liderado pelo Dr. Pedro Paulo Corbi, professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (IQ/Unicamp), coordenador do Laboratório de Pesquisas em Química Bioinorgânica e Medicinal (LQBM) e pesquisador principal no CEPID CancerThera, marcou presença no BioCiudadReal 2025, um dos principais eventos internacionais voltados à Química Bioinorgânica e Medicinal, realizado em Ciudad Real, na Espanha, entre os dias 2 e 4 de junho.
O grupo apresentou quatro trabalhos que abordam o potencial terapêutico de complexos metálicos – principalmente de prata, cobre e paládio – com aplicações antitumorais, antivirais e antibacterianas.
Forte potencial de inovação
Entre os estudos apresentados, está a pesquisa com complexos de prata(I) contendo análogos da tiouracila, que demonstraram atividades antiproliferativas promissoras em linhagens celulares tumorais. Outro trabalho examinou como diferentes contraíons influenciam o perfil biológico do complexo bis-(1,10-fenantrolina)cobre(II), revelando variações importantes na interação com alvos biomoleculares.
A equipe também apresentou resultados sobre a síntese e a caracterização de complexos de cobre(II) com bases de Schiff derivadas de sulfonamidas, que mostraram notável atividade antibacteriana. Já no campo da virologia, o grupo divulgou um estudo inovador sobre um complexo de paládio(II) com uma base de Schiff derivada da amantadina, que apresentou ação antiviral contra o vírus Chikungunya.
A escolha dos metais de transição utilizados nos compostos se baseia em sua histórica eficácia terapêutica, propriedades eletrônicas e possibilidades de funcionalização. Além de avaliar a atividade biológica, nos estudos também estão envolvidos métodos instrumentais para compreender a interação dos compostos com alvos biológicos, aumentando a precisão da pesquisa.
“Muitas das moléculas com potencial antiviral com as quais nós trabalhamos também possuem potencial de aplicação no tratamento de outras doenças, como o câncer, sendo essa a principal linha de pesquisa do nosso grupo da Unicamp”, explica Laura Barros Silva, doutoranda no IQ/Unicamp e integrante do LQBM.
Os resultados apresentados no BioCiudadReal 2025 abrem perspectiva para o desenvolvimento de novos candidatos a fármacos, e alguns compostos já estão sendo considerados para etapas mais avançadas, incluindo testes pré-clínicos in vivo. “Os compostos desenvolvidos pelo grupo têm forte potencial tecnológico e de inovação. Alguns deles podem vir a ser patenteados em um futuro próximo”, afirma Corbi, que é também gerente da área de Inovação do CancerThera.




Trocas acadêmicas e culturais
Segundo Corbi, a participação no evento permitiu à equipe não apenas divulgar resultados recentes, mas também trocar experiências com grupos de outros países e prospectar novas colaborações científicas. “A participação dos pós-graduandos em eventos científicos internacionais é fundamental na formação dos futuros pesquisadores. A apresentação de seus trabalhos aos demais conferencistas em diferentes idiomas é igualmente importante para o enriquecimento científico e cultural de cada um deles”, destaca.
Além de terem tido contato com as tendências da Bioinorgânica, os pós-graduandos puderam entrar em contato com pesquisadores de destaque mundial da área, conhecendo melhor seus estudos e metodologias. “Todo esse aprendizado trouxe um enriquecimento enorme dos nossos conceitos e olhares perante a química de metais, nos dando ideias de novos horizontes para a nossa pesquisa no Brasil”, diz Maria Paula Dias Carneiro Miguel, mestranda em Química no IQ/Unicamp e integrante do LQBM.
Nesse sentido, Silva diz ter ficado particularmente empolgada por ter a oportunidade de conhecer e apresentar seu pôster para pesquisadores cujos trabalhos são sempre referenciados por ela, como Ingo Ott e Maria Gil-Moles: “É sensacional o networking que fazemos nesses congressos”.
O BioCiudadReal 2025 foi muito importante para o grupo, único de fora da Europa a apresentar trabalhos no congresso, por proporcionar o reconhecimento da pesquisa brasileira e as possibilidades de discussão sobre experimentos e colaborações. “Algo que me deixou extremamente feliz foi conseguir despertar o interesse de várias pessoas com relação ao Brasil e ao sistema brasileiro de pesquisa, podendo contar um pouco mais de nossa cultura e nossos costumes”, relata o mestrando Francisco Mastrobuono Cordeiro de Almeida, também do IQ/Unicamp e do LQBM.
Atualmente, as pesquisas são financiadas por agências brasileiras, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG), e internacionais, como a Fundação La Caixa.
O grupo seguirá submetendo projetos a editais internacionais, buscando consolidar parcerias iniciadas durante o congresso e prospectar outras tantas. “Pretendo continuar preparando novos complexos metálicos e explorando suas atividades medicinais da melhor forma possível. Já estou empolgada para voltar ao laboratório!”, afirma Silva.
Texto: Romulo Santana Osthues | Fotos: Acervo pessoal